domingo, 13 de fevereiro de 2011

Que parva que eu sou!

Estando a nova música dos Deolinda a causar tanta polémica, e sendo eu uma fã incondicional deste grupo, não poderia deixar de fazer uma pequena referência a este acontecimento. Até O Público fez deste tema capa da edição de hoje: 

Peço desde já desculpa se a referência não for assim tão pequena, mas às vezes quando começo a escrever sobre estes assuntos tenho tendência a esticar-me um bocadinho. :)
Nos últimos dias, temos assistido a um enorme movimento de "jovens" que se identificam com esta canção. Mas eu pergunto-me: será que se estão a identificar pelos motivos certos? 
O que vejo continuam a ser críticas contra o sistema, "lamechices" (desculpem a palavra) de que "nós somos uns coitadinhos", "o país é uma porcaria e não temos condições nenhumas", "andamos a estudar para ir para o desemprego", etc etc. Mas não me parece que seja só isto que a canção diz. É verdade que a situação está má e que deveriam ser dadas melhores condições aos licenciados. Mas será que a maioria deles procura e luta por essas condições? Não seremos nós a geração do comodismo, do querer tudo fácil, do adiar tudo o que seja responsabilidade? A canção fala disso tudo tb!
As pessoas agarram-se a versos como  Que mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar e tiram da música o significado que mais lhes convém para continuarem a queixar-se sentadinhos no sofá. Desculpem se pareço demasiado dura mas estas coisas às vezes revoltam-me e entristecem-me por ver o tipo de mentalidade que a nossa geração está a adquirir. E obviamente incluo-me nela também.
Mas voltando à música, penso que a mensagem que ela tenta transmitir é bem mais abragente do que um simples acto de "queixume". É um crítica ao sistema, ao emprego precário, ao facto de para ser escravo ser preciso estudar, é verdade. Mas é sobretudo uma crítica aos jovens que se acomodam com esta situação, que olham à volta e vêem os amigos na mesma situação e por isso acham que é normal e que não podem fazer nada. 
Sou da geração "casinha dos pais" 
Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
...

Sou da geração "vou queixar-me pra quê?"
Há alguém bem pior do que eu na TV 
Frases como estas resultaram em enormes aplausos dos jovens que se encontravam nos coliseus aquando dos concertos dos Deolinda. Mas na minha opinião não deviam. Deviam ter causado silêncio, reflexão, e até vergonha por nos deixarmos acomodar nesta situação, por não lutarmos por algo melhor para nós e para os nossos filhos. 
A música termina com um grito de revolta, 
Sou da geração "eu já não posso mais!"
Que esta situação dura há tempo demais

E parva não sou
que deveria abrir os olhos a todos os que a ouvem! E não fazê-los acomodarem-se ainda mais a esta situação e porem as culpas de tudo nos políticos e no sistema. Espero que o debate sobre esta música consiga criar alguma chama de luta e de esforço na nossa geração, e não torná-la numa geração ainda mais parva do que ela já é.



4 comentários:

  1. Genial banda! Genial canção!

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  2. Para começar, gosto de ver um testamento escrito por quem me acusa de só escrever testamentos. :)

    Bem, sobre a música, que finalmente escutei, posso dizer que concordo contigo. Basta ver o vídeo no artigo do público e logo se repara que a primeira reacção é de alegria e riso quando a vocalista diz:
    "Sou da geração sem remuneração."
    Motivo para rir? Não vejo nenhum, mas pronto, dando o benefício da dúvida, porque quem estava a ouvir, poderia estar a ser apanhado de surpresa. Mas depois continua.
    Quando se ouve: "Mas isto está mal e vai continuar, já é uma sorte eu poder estagiar!" voltam os risos. Sei que nos devemos rir de nós mesmos, pois só assim conseguimos ser felizes, mas acho que neste contexto ficar calados era bem melhor.

    Fazemos parte dum país de brancos costumes. A nossa revolução durou menos de 24 horas e nem confrontos de maior houve. Correu assim porque somos muito bons? Cada vez mais penso que correu assim, porque um lado e o outro não estavam para se chatear muito e perder muito tempo com isto.

    Uma das maiores, senão a maior obra, da nossa literatura é usada muitas vezes, não pela referência às epopeias dos descobrimentos, mas para fazer referência à personagem do velho do restelo. Na altura como hoje em dia, muitos (nós) falam, mas preferem ficar parados e acomodados com o estado actual da coisa, sem tentar arriscar.

    Depois, somos muito orgulhosos. Toda a gente tira um curso, toda a gente quer a partir daí começar a ganhar rios de dinheiro. Óbvio que não defendo a exploração que algumas entidades patronais pretendem, mas aí é preciso que as cabeças dos licenciados trabalhem. Agora ninguém começa pelo topo da hierarquia, logo é preciso conhecer a realidade do país. Não querem começar por ganhar €700 mensais e acreditar que no futuro evoluirão? Então optem por esperar um primeiro emprego a pagar €1000, sentados no sofá da vossa casa, numa vida de desemprego.
    Tiraram um curso superior, agora são advogados como mais "milhentas" pessoas, são educadores como mais uns milhares, são engenheiros civis e não há mais casas para fazer, etc e como tal não arranjam dinheiro para comida no final do mês? Engulam o orgulho e "sujem" as mãos, em empregos do dia a dia, pois recebem ordenado, pagam os vossos impostos, ajudam o país e ganham humildade.

    Mas estamos num país onde a maioria se queixa, mas no fundo gostavam era de conseguir ser os "famosos" da tv, ser o vigarista que durante anos e anos foge aos impostos, ser rico sem mexer uma palha.

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  3. Bem Cheesem foste duro.. Eu não queria chegar tão longe, mas a verdade é que concordo com a maioria das coisas que disseste.. Embora ache que realmente há muita exploração em trabalhos mal qualificados, concordo que muitas pessoas não se querem sujeitar a trabalhos "menos bons" só porque têm um curso superior. :\
    A isto, gostava só de acrescentar (era para referir no post mas esqueci-me) que acho que existe tb uma falha enorme por parte dos adolescentes quando chega a hora de escolher um curso superior. Não entendo como é que os cursos de ensino de letras, sociologias e outras tantas centenas de curso sem qualquer saída no momento, continuam a ter pessoas a candidatarem-se todos os anos. Ok, cada um deve escolher aquilo que gosta. Mas dentro daquilo que gostamos, temos de ter o bom senso de escolher algo que nos dê alguma garantia para o futuro, não?

    Enfim.. Há casos e casos e é claro que nada disto é regra. Mas sem dúvida que existe muita permissividade numa geração que devia ser muito mais esforçada e exigente consigo própria.

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  4. P.S.: Esqueci-me de uma coisa.. Cheese, de certeza que querias dizer "Fazemos parte dum país de brancos costumes."... brancos??? lololol

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